"As trevas e a luz são a mesma coisa. De modo assombrosamente maravilhoso me formastes" - Salmos 139- 12,14.
Depois de assistir Manto e Adaga, série de 2018 que ganhou meu coração, resolvi conhecer mais sobre a trajetória dos heróis através de algumas HQs. Para fazer essa matéria, li Manto e Adaga (1983), Manto e Adaga- Predador e Presa (1988) e Manto e Adaga: Tons de Cinza (2018).
Durante as leituras, fui conhecendo mais a fundo a dupla Tandy (Adaga) e Tyrone (Manto) - 1983- jovens que foram usados em um experimento de drogas que ganharam poderes por conta disso, e fizeram de suas missões na vida lutar contra o tráfico de drogas e outros crimes perversos, mas um tanto comuns que ocorrem nas ruas.
Enquanto Tandy é a própria luz, uma jovem inocente que fugiu de casa por não sentir o amor de seus pais e se sozinha no mundo, Tyrone viveu uma bruta realidade e se deparou com as trevas ao ver seu melhor amigo morrer de forma injusta. Os dois viveram situações horríveis e buscam por algo juntos, vingança. Um grande questionamento que este quadrinho trás é: quem somos nós para julgar algo? Podemos ser júri, juiz e executor? Essa perspectiva é trabalhada de muitas formas através dos personagens principais, dois justiceiros e outros grandes nomes da história como o Padre Delgado e a Policial O'reilly. Enquanto O'reilly tenta entender o que é certo e errado pelos meios da justiça, que muitas vezes são falhos e enfurecem nossos protagonistas. O Padre Delgado -1988- acaba se deturpando dentro da própria religião e encara Adaga como um anjo e Manto como um demônio. A grande questão é que ambos são vítimas, e assim como Manto pode ser consumido pela fome e o vazio de sua escuridão, Adaga queima por dentro como o próprio inferno, ela tem tanta luz que não consegue suportar a menos que seja drenada pelo companheiro, que por sua vez se alimenta dessa vitalidade. Um precisa do outro, os dois são extremamente opostos e completamente iguais. Dentro desta nova jornada também entendemos mais sobre os poderes de Manto, que tem dentro de sua personificação um demônio, que é quem o faz ter essa fome insana. Ao confrontar suas habilidades e entender que não é mau, ele finalmente para de fugir da Adaga, começa a encarar seus problemas de frente e assume o controle de seus poderes. E aí temos uma grande evolução!
Já na HQ mais recente, de 2018, vemos algumas mudanças acontecendo na história, como uma maturidade maior em Adaga, que quer ser independente e decide se afastar de Ty para trilhar sua vida como um indivíduo singular, algo muito além de Manto e Adaga, da garota que costumava ser. No entanto, a separação não dura muito já que uma perigosa ameaça do passado ressurge, forçando-os a se reunirem, enfrentando seus sentimentos e a desconfiança que agora tem um pelo outro. Um ponto de destaque é que aqui, se passaram dez anos desde a origem dos heróis, ou seja, eles não são mais adolescentes perdidos e que não tem ideia do que estão fazendo. Tandy trabalha com a polícia, e como sempre foi aceita com seus poderes por ser a própria "luz" e também mulher branca, não vê as coisas como Tyrone, que sempre foi rejeitado pela sociedade, algo que ocorre antes mesmo de ter ganhado seus poderes.
De uma forma bem simples, Manto e Adaga discute a questão de preconceito, afinal, porque Manto sempre foi visto como demônio? Porque as pessoas tem medo dele? É sempre a questão do preto marginalizado, dar cor representar algo malvado, do medo do "diferente", do preconceito racial enraizado dentro da sociedade. No fim, os dois sempre serão complicados, tem problemas de autoestima, com a lei, com a religião e com a noção de justiça, mas algo sobre eles sempre foi simples, eles precisam ficar juntos. Caso tenha chegado até aqui, gostaria de te agradecer por permanecer em meus devaneios sobre esses personagens, que não são dos mais conhecidos da Marvel, e recomendo ainda que procure as HQs nas quais me baseie para o texto, são todas excelentes.
Lembrando que Manto e Adaga também tem uma série com duas temporadas, que está disponível no Disney+.
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