Passei duas semanas pensando sobre como Rua do Medo poderia ser concluído, fiz teorias e definitivamente temi pela vida de Sam e Deena. Acontece que em 1666 percebi uma coisa, esse não é um típico filme slasher ou de terror- pode até se inspirar em alguns- no entanto, se mostra extremamente original e busca se retratar com as personagens femininas que tanto foram negligenciadas pelo gênero e pelo passado.
Dessa vez, através dos olhos de Deena, conhecemos o passado de Sarah Fier e em uma saga com protagonistas femininas que sofriam preconceito por serem lésbicas e diferentes do padrão da época, era impossível que a "horrenda bruxa" fosse de fato a vilã. Sarah era destemida, bondosa e muito inteligente, mas não se encaixava nos costumes de 1666, era livre demais para aquele tempo, ousada demais para as mentes pequenas dos homens de Union e muito apaixonada por Hannah.
Só isso, e apenas isso, já fazia dela uma bruxa para eles. E é claro, o orgulho ferido de um homem que foi rejeitado por Hannah misturado com uma pitada de possessão do pastor da cidade dão uma boa empurrada para que Sarah seja perseguida e posteriormente enforcada. O caminho até esse triste desfecho tem algumas mortes e faz Sarah pensar em fazer um pacto com o diabo para se livrar daqueles homens cruéis e nojentos- o que eu definitivamente não julgaria.
Mas aí vem o grande plot twist, um que imagino que parte do público tenha acertado, mas pelo qual fui feita de trouxa. Solomon Goode, um antepassado de Nick Goode, foi quem fez esse grande pacto que passa por gerações, possuindo uma pessoa e fazendo com que ela mate outras, tudo isso para ter uma vida de sucesso, propiciando isso para toda a sua linhagem.
E quando Sarah descobre isso, é pega por Solomon, levada ao julgamento da cidade e morre, mas não sem antes afirmar que dará um jeito de fazer com que todos descubram quem é ele e todas as pessoas que foi responsável por matar. Fiquei feliz demais porque isso finalmente acontece, mesmo que depois de três séculos!
Deena retoma o protagonismo e sabendo da verdade, arma uma emboscada para Nick com Ziggy, Martin e Josh. Essa parte do filme tem toda aquela ação desenfreada, mas não foi o que me surpreendeu, e sim o fato de que no final Sam é salva sem que Deena tenha que se sacrificar. Pode parecer pouca coisa, mas vamos pensar em algo: quantos filmes com representatividade lésbica tem um final em que as personagens não morrem, se separam por traição/brigas ou são obrigadas a se separar?
Pois bem, não digo que seja inédito, mas esse filme quebra um grande paradigma nesse sentido e ainda nos mostra como a tirania humana sempre foi o problema, em especial, no que diz respeito as mulheres e suas posições sociais. Refletir sobre isso me fez valorizar ainda mais esse filme, que além de ser um slasher muito divertido, entrega uma mensagem essencial.
"Eu não temo o diabo, eu temo o vizinho que me acusa. Eu temo a mãe, que deixa sua filha ser enforcada", e eu só posso bater palma para Sarah Fier e esperar por mais filmes que desmistifiquem a história de bruxas.
Comments